4 de mai. de 2009

breve comentário sobre o que não se pode contar

Há uma cortina verde, uma manta colorida sobre o sofá, alguns vasos de plantas, almofadas com flores. Uma mesa e quatro cadeiras. As coisas elétricas que fazem uma casa qualquer funcionar e uma luminária de pé. Um corredor repleto de prateleiras repletas de livros. Um cômodo para um escritório provisório. A cama de casal, os criados-mudos e barulhos vindos da São Clemente um pouco distante.

Objetos, restaram poucos. Abandonei vários que traziam memórias indesejáveis e deixei espaços abertos, gavetas vazias. Há o que entrar, aos poucos. Aproveitei a mobilidade dos móveis e deixei as madeiras pesadas para quem tem força de carregar peso inútil. Eles já se movimentaram suficiente em minhas mudanças passadas, já trouxeram passados antigos e o que eu quero agora é um presente fresco.

Azuis são os azulejos do banheiro. O espelho grande de moldura de madeira clara sobre a pia me mostrou hoje a beleza da imagem mais cotidiana hoje em dia. Era eu e ele, abraçados, olhando para si. Se perdendo na fumaça do vapor vindo do chuveiro de água quente. Olhamo-nos a fio. Até o carinho maior desfazer a imagem.

E banhamos, e tomamos café, e o dia se passa, e a noite chega, eu dispersa nos afazeres da vida de todas eu, ele atônito com os prazos, eu que acordo sempre depois, ele que dorme sempre antes, vivemos dias cruzados em casa, além de toda saída, aquém de toda chegada.

2 comentários:

Laura Pacheco disse...

paulinha, minha amiga linda (dos olhos de jabuticaba mais mel que já vi), ler sua poesia em palavras é deparar-se com sua arte fotográfica. percepção aguçada e aguda do cotidiano, que se revela em imagens traduzidas por um olhar mais do que sensível - e poético. ler suas foto-poesias-palavras é como te dar um abraço. que venha o presente fresco... que saudade de vc! bjos da sempre amiga, laurinha
(da bahia de todos os "santos"...)

Anônimo disse...

Paula paula!

Eu gosto de ler você, eu gosto de ler... seja através da imagem, seja através da palavra. é uma forma de saber do outro, de estar por perto... de imaginar tudo isso.

p.s; você parece-me bem.

Um beijo sua mulher de passagem.

Cris