15 de jun. de 2009

traga as pedras e sedimente-se em mim

Ele partiu mais uma vez, atravessou o oceano rumo a uma travessia na terceira margem do rio. Onde os pés estão sobre as pedras. Hoje ele está na casa do pai, mas o pai não está mais lá. Ele caminha sobre as pedras. Posso ver seus movimentos, seus passos arriscados e certeiros, a dor em seus pés, calejando-se com as pedras e com a água fria. Até que ele escorrega em uma das pedras e se molha, sucumbido pelo cansaço deixa-se molhar e a água gélida lavar seu corpo inteiro. A água aos poucos esfria o corpo quente e ele se acostuma. E vem o prazer da água corrente. E ele se levanta, prossegue a travessia. Com o vigor que o choque térmico traz, ele olha atentamente as pedras no fundo e vai colhendo, uma a uma, os fósseis afetivos. As lágrimas quentes o aquecem e os soluços fazem o corpo reverberar a dor nos pés. A água que escorre dos olhos também lava. Ele atravessa o rio, colhe as pedras que lhe massagearam e atravessa para o Rio. Eu peço a ele para que chore. Eu peço a ele para que volte, para que traga as pedras que colheu e eu lhe darei meu corpo para repousar, para aquecer, para percorrer, sedimentar.

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