27 de fev. de 2009

Abri a porta do apartamento e o silêncio daquela nudez derramou a calma sobre mim. As paredes brancas refletiam toda a luz que atravessava os vidros descortinados e eu, igualmente radiante, penetrava vagarosamente naquele esqueleto.

Com pequena dificuldade abri as janelas que estavam levemente emperradas pela pintura nova; abri as portas dos armários, as gavetas; testei todos os interruptores, mesmo quando não havia lâmpadas; abri todas as torneiras e o chuveiro. Deixei correr um tempo, o vento, a água, eu ali dentro.

Entrava em cada cômodo e a imaginação não precisava mais ter pressa. Agora há tempo de construir. Me gastei ali a ver o que se podia ver. As paisagens pelas janelas, alguns resquícios dentro dos armários, dois espelhos, o desenho dos tacos. Me dediquei àquela estrutura, às minúcias despercebidas na pressa do sim.

Sim, é este. Este o esqueleto que escolhemos rechear com nossas vidas, odores e ruídos. Saí de lá com uma pequena lista de coisas a comprar e consertar, sabendo que não serão os móveis e objetos a transformar aquele monte de paredes brancas em uma ruína.

A carne, nossa, suada, a exalar na história por vir neste cenário suas possíveis memórias. Espero o homem que cuida do coração de seu pai cruzar o atlântico para fazermos nossa primeira travessia. Passamos de um lado para o outro, para o lado do outro. E vamos amanhecer juntos.

3 comentários:

Anônimo disse...

lindo texto.
linda você.

desejo a vida aos dois.

beijo com todo amor.

carol

maria lutterbach disse...

corações ao alto!

Dorothy disse...

o amor enobrece o homem...
e não deixa espaço para as coisas inválidas