24 de out. de 2007

alagamentos



A imagem da cidade-maravilhosa quando imersa em ruas alagadas por uma tempestade pode ser estranha. Para mim foi correspondente. Acordei hoje e do lado de fora da minha janela ao invés dos raios atravessando a castanheira estava a rua completamente debaixo d’agua. Os buracos que têm nela para escoar a água não deram conta do volume líquido nem da sujeira grossa. E tudo parou de correr para onde devia. Estou aqui. Mais uma vez presa pela tempestade. E gostando de ter econtrado nela uma aliada para o enclausuramento. Penso em deixar para amanhã ir ao centro e ao banco e passar esse dia dedicado ao prazer da chuva, dos chás e das músicas antigas. Reservo-me aos afazeres da casa, sem muito movimento.

Conversava outro dia sobre as pessoas “legais”. Essas das quais todo mundo gosta e faz todo mundo rir. Algumas disseram que queriam ser elas, adoradas. Talvez eu também quisesse. Falei de uma diva, que tinha um lugar tão solitário que ninguém atingia, ela não precisava dissimular sorrisos sinceros nem exalar simpatia aleatória. Descaradamente, falava de mim, pelo caminho de uma outra mulher.

Esse lugar inatingível. Aqui estou. Vasculhando no sótão do ser, tentando encontrar velharias que devem ser reerguidas e escolher as que devem ser estilhaçadas. Sabendo exatamente que essas peças escolhidas não terão destino fácil. Algumas sujeiras grossas difíceis de serem removidas e outras coisas complicadas de serem restauradas. A escolha do destino de cada uma e a preparação das peças para deslocamento. Talvez por estar no sótão gosto da chuva lá fora. A cidade não suporta tanta água. Eu tentando abrir novos escoamentos. Os volumes às vezes são cabem. É preciso transbordar.

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