15 de ago. de 2008


Quando você abriu a porta e me viu eu ouvi que estava com cara de mulher. Meus cabelos estão nos ombros, de uma cor às vezes parecida com meus olhos, às vezes mais vermelhos, outras mais escuros.

Da aparência imediata, talvez só isso possa ser visto em minha estrutura física. Mas eu entrei pela porta da minha casa não só com os cabelos maiores e mais escuros. Minha coluna anda mais ereta. Meus passos mais calmos e seguros. Meu olho pisca menos.

Esse corpo inesperadamente goza do prazer. É o tempo mais bonito que se tem e pareço primavera. Estou na temperatura mais agradável, minhas bochechas bem vermelhas e meus olhos bem brilhantes.

O dia passa escorrendo por entre a espera pela noite. Os dias passam escorrendo pela espera para o fim de semana. Surpreendo-me com o prazer distribuído em encontros, que se iniciam, acontecem e terminam e já desejo o próximo e ele vem.

A casa tem sido o lugar de passagem, onde eu entro, fico, alimento, durmo e te encontro. Nós que sempre falamos cada uma de nossas casas de cada uma de nossas cidades, agora estamos diariamente tomando chá na mesa da cozinha de uma mesma casa, de uma mesma cidade.

Penso na cidade, penso em você e penso em te mostrar prováveis conchinhas do mar: lembro do Real Gabinete Português de Leitura, da Marina, da feira portuguesa da Cadeg, da Cafeteria Colombo. Esta cidade reserva muito.

Enquanto os dias passam fluidos por entre meu tempo particular de primavera, você percorre vagarosamente a cidade, como é de você. Hoje é sexta-feira, dia branco. Vamos passear.

Todos os lugares serão lugares de passagem para nós (posso dizer nós?). Só o amor não será passagem, é o caminho que se percorre.

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