22 de jul. de 2008

naufrágio não frágil

Cheia de palavras vindas da TV, ha muito tempo sem descartá-las a este dissimulado papel branco, que sempre me absorve como se eu fosse uma caneta tinteiro borrando o branco limpo que ali estava. De tanto ouvir tantas palavras desconexas durante tantas noites fui perdendo minha prazerosa dislexia datilográfica.

Se não foi também por uma falta de graça que me assolou nesses últimos meses. Nada grave. Essa é a falta, nem grave nem agudo e fiquei eu nesse tom murcho de um cotidiano preenchido por palavras ouvidas de uma TV, ou de um telefone, ou de um DVD, ou de um computador, ou de qualquer outro lugar que não reverbera.

E nada fazia barulho.

E o que estava longe foi ficando invisível.

O que era ruim foi ficando insuportável.

E agora estou com uma atitude de fim na ponta dos pés já direcionados a um percurso que  tem o prazer do som de pisar em folhas secas. Em algum último escrito dizia muito a palavra óbvio, e agora, nada parece mais claro e sonoro do que essas folhas secas. Eu estava cansada não era da vida óbvia, porque ela não é. Cansei da espera e da ausência. Do normal.

E nem mudar de casa havia me trazido motivações superiores. Nós sabemos, até o ditado mais popular sabe. Até o caramujo sabe. A tartaruga.

Enquanto você esteve do outro lado do azul marinho eu estive no meio dele. Enjoei em alto mar em meio a tempestade. Desse jeito literal e cinematográfico. No meio do movimento dos barcos - eu nunca tinha visto tanta coisa se movimentando junto em minha vida - houve um arranjo de cristas de ondas e que somente agora se configura em um naufrágio .

Mas eu não estou a ver navios, eles que se vão.

 

 

 

(eu te cuido, tu me cuidas, sempre – desde a primeira taça de vinho)

 

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