9 de fev. de 2008

she's leaving home

o quarto ainda está em ordem. logo estará cheio de caixas pelo chão, roupas sobre a cama, livros desorganizados sobre a mesa e a vida por levar adiante. não sei por onde começar, se vou atrás das caixas no supermercado, se convoco amigos para a empreitada, se faço um trabalho solitário e cheio de memórias ou se simplesmente vou embora sem prestar muita atenção nisso tudo. há um ano eu fui embora da minha casa. passei um dia no rio com você, fomos à praia de dia e à noite bebemos champagne. no dia seguinte eu chegaria na minha casa nova - embora nunca a tenha chamado verdadeiramente de casa. eu vim atrás de um homem, mas acreditava que era atrás dos meus planos que eu estava indo. tantas vezes quase fui embora por causa deste mesmo homem, que fazia a cidade ficar mais triste pra mim. quando cheguei aqui, na rodoviária, duas malas e o medo de estar completamente equivocada. não estava. o quarto ainda está em ordem, mas meu coração está aflito. às vezes me pergunto muito seriamente por que inventei de ser assim, por que inventei que gosto de ser provisória se na verdade eu só quero é me fixar em algum lugar. e por não conseguir, e por ser sempre tão aflita, eu viajo e me mudo e grito de solidão todas as vezes e tenho banzo e a vontade de sempre ficar na hora de ir embora e assim vou construindo qualquer coisa de palpável na minha vida. mas é hora de não pensar muito e arrumar as coisas dentro das caixas. sim, os cômodos servem para acomodar, mas meus pés andam perdidos pelo apartamento. tudo o que faço de cotidiano, como abrir o armário, pegar água na geladeira ou lavar a roupa, eu faço com o sentimento de última vez. sei que me apego demais às coisas perdidas, mas é assim que aprendi a desenhar meu percurso no mundo. ouço uma canção dos beatles vinda do prédio ao lado, é noite de sábado, decido com uma amiga se bebemos cerveja na rua ou se ficamos em casa. o mundo está tão no lugar hoje e o coração tão aflito todos os dias.

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