11 de nov. de 2007

pode entrar

Me disseram ontem que sou uma pessoa fria. Eu cortava os cabelos dela enquanto disse. Meticulosamente arranjava a tesoura entre os fios e buscava uma nova forma para aquele emaranhado negro, liso e robusto. Tirava as pontas do cabelo gastas pelo tempo dessa mulher que demorou a me dizer qual teria sido a dificuldade na lida comigo durante um trabalho. A distância e frieza, disse-me que pareço não me envolver com as pessoas e que a presença delas parece não me atingir em nada. A distância penso ser justamente devido ao tanto que a presença delas me atinge, se não atingisse estaria eu ali fluentemente imersa nas relações corriqueiras. Mas não sigo essa possível fluidez e tropeço nas minhas próprias pernas ao percorrer o caminho dos encontros. Não desfruto de uma grande simpatia e tão pouco solto palavras a desenvolver discursos imediatos. Esbarro no desconhecimento. Sinto de fato um fosso entre eu e essas pessoas que se põe diante de mim e há. Até dói. Posso tentar esticar um pouco mais os braços para as tocar e tirar do bolso uma meia dúzia de palavras que enredarão possíveis maiores histórias. Creio que independente do esforço em construir relações as inevitáveis irão transpor a minha margem aparentemente rígida e atingir o poço quente que também há. Talvez a margem esteja um pouco mais rígida e o poço um pouco mais no fundo, uma questão de ajuste nas arestas e não de temperatura. Corto os cabelo de alguns queridos, faço massagem, cafuné e enxugo lágrimas, até consigo conversar bastante e fazer rir. Mas é preciso entrar.

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